domingo, 1 de novembro de 2009

O comandante


Gosto de recordar quando era pequena e parecia que o tempo nunca iria passar, era uma criança feliz para mim só importava brincar, adorava correr atrás dos meus amigos a jogar as escondidas, corria sempre como se fosse a ultima vez que isso fosse acontecer, também gostava de andar de bicicleta e sentir o vento a bater-me na cara, e no Outono quando havia as folhas secas passava rápido por cima das folhas para ouvir aquele som, ou então se chuviscava tentava andar o mais rápido possível para a chuva não me apanhar, mas o comandante era malandro e por muito que eu andasse depressa ela acabava por me molhar.
Nessa altura o que menos gostava era quando chegava a hora dos meus amigos irem embora, sim porque era quase sempre a ultima a ir embora, o comandante por vezes era meu amigo e deixava-me ser a ultima a ir para casa!
Agora o comandante faz tudo passar tão depressa a vida tem menos intensidade, quanto mais rápido quero que o comandante faça andar as coisas mais devagar acontece, quanto mais devagar eu quero mais depressa o faz, tem um sentido de contradição maior que eu!
Gostava que o comandante fizesse o tempo andar para trás, eu não mudaria nada mas gostava de voltar a ver a criança feliz que era, gostava voltar poder jogar as escondidas com os meus amigos, andar de bicicleta no Outono, jogar a bola no quadrado, estar com os meus amigos naquele sítio especial que era só nosso. As vezes pergunto se sinto saudades do momento ou das pessoas, mas com toda a certeza que é dos dois, porque eram aquelas pessoas que faziam os momentos tornarem-se únicos.
Outro dos sítios que gostava de voltar se o comandante me deixasse era a casa do meu avô sem qualquer dúvida, ir para lá era ser livre com toda a certeza, eu era a menina do baloiço sonhava alto nessa altura e sempre que me sentava naquele baloiço sonhava chegar ao céu, podia não tocar mas para mim era como se fosse. Outras vezes agarrava num garrafão de lixívia e punha-me a descer as fragas do monte ao lado da casa em cima dele, ou então pegava na bicicleta e ia a procura do desconhecido, mas o que gostava mesmo era de ir passear de tractor, sentia-me sempre tão feliz. Mesmo nessa altura o comandante tinha uma grande influência, porque fazia com que tivesse de ir comer, ou ir dormir, ou fazia mesmo com que tivesse de me ir embora. A minha tia nessa altura era a melhor amiga do comandante era ela que em torno dele me chamava, ou berrava porque estava a demorar muito.
Lembro-me como se fosse ontem andava eu a brincar com as pedras da calçada, a dar toques como se fosse uma bola chutei a pedra alto e pus lá a cabeça, quando cheguei a casa disse a minha tia que tinha sido no bico da janela da vizinha para ela não me bater…
Outra coisa que gostava era do natal me sentar a fogueira com o meu avô, o meu tio e os meus primos a jogar ao rapa, ou então a cantar enquanto ele tocava viola, enquanto as mulheres faziam o jantar. Agora o comandante fez me crescer e faço o papel das mulheres que nos faziam o jantar no natal.
O comandante faz com que a vida passe por vezes penso se ele não se vai cansar e parar, e eu não vou crescer mais vou parar aqui, eu e toda a gente, mas com toda a certeza que nos iríamos fartar, foi também o comandante o responsável por aqueles momentos felizes, aqueles momentos que eu achava que arruinava por não parar!
Ainda bem que o tempo passa e faz com que as coisas se renovem…

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